domingo, 25 de abril de 2010

À Francesa.


Arruma suas coisas e vai, sem fazer barulho. Descalço. Á francesa. Sai da cidade, do estado, do país, do mundo. Deixa que eu mesma faça malas, guardo roupas e se possível toda sua vida numa caixa e mando pra longe. Te dou de presente uma viagem para a Terra do Nunca, não a do Petter Pan, falo da terra do nunca existiu. Fica pra lá, mesmo estando por aqui. Na minha cabeça já está no avião, já me despedi, seco, sem emoção. Disse tchau e você foi. Mesmo correndo o risco de me ver diante dessa mentira nas ruas do Rio de Janeiro em que eu me encontro e você também. Foi uma imaginação insana, porém a mais sensata dos últimos tempos. Você simplesmente se foi naquele avião que eu inventei, num vôo que criei, pra um país que imaginei e levou tudo. Toda a história: início, meio e fim. Sentimentos bons e ruins foram numa frasqueira, bem pequena, coube tudo. Cada música que me faz lembrar foi junto. Tudo. Nada de postais. Nada de telefonemas, sms, e-mails. Nada. Exilado numa terra de ninguém, por uma ditadura que eu implantei e que se estabelece sem um fim previsto.
Queima de arquivo. Perda de memória recente. Vida que segue. Curso normal. Sem lamúria, nada de drama. Não há o que sofrer pelo que não existe.
Agora curto o vento sem aquele perfume sufocante, de braços abertos sem medo de esbarrar em você, gritando nomes que não o seu. Aprendendo a soletrar palavras novas. Gostando de ritmos que nada tem a ver com o que te agrada. Totalmente avessa ao que lhe é conveniente. Satisfeita. Saciada. Orgulhosa. Vou comprar um espelho de corpo inteiro e ver como me cai bem a sua ausência. Fico mais clarinha sem sua sombra. Mais leve. Mais eu. Respiração leve, cantarolando músiquinhas, eu vou extremamente distraída pensando no que vem agora, já que o pior já passou.

Um comentário:

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